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Paraíso

26 septembre 2010 Laisser un commentaire

Acho que a primeira vez em que ouvi falar de Valparaíso foi quando eu tinha uns dez ou onze anos e  a família da minha colega de escola Andrea, por alguma razão bizarra, foi morar alí durante uns dois anos. Em plena ditadura militar! Ao retornar, Andrea falava do lugar, principalmente do mar, dos panelaços e do uniforme das escolas, parecido com os das escolas inglesas.

O mar ainda está lá, ainda bem, e os uniformes escolares permaneceram parados no tempo. Para as garotas, umas saias cinza com meias da mesma cor, e casaco, além de umas incríveis polainas. O porto já não tem a mesma importância e a vizinha Viña del Mar, conhecida pelo festival de música, tornou-se um horrível balneário com  prédios destituídos de charme.

Parece que o título de patrimônio da humanidade salvou Valparaíso.  A cidade é linda… com  uma geografia privilegiada, faz pensar no que poderia se tornar o Rio de Janeiro se alí houvesse governo. É claro que Valparaíso é bem menor, logo o trabalho parece ser mais fácil.

Santa Teresa + Pelourinho = Valpo

A cidade valorizou suas encostas e  a vista para o mar com vários paseos, miradores e ascensores.

Paseo Atkinson

Lambe-lambe no Paseo

Ascensor Artilleria

É intrigante ver as fachadas coloridas das casas típicas, recobertas de folhas de zinco (!) onduladas.

Fachada Cerro Alegre

Em Cerro Alegre e Cerro Concepción, apesar dos muitos bares, hostais e lojinhas de artesanato, consegue-se perceber uma vida local, com atividades culturais e sociais de bairro que ultrapassam o aspecto turístico. Tem-se a impressão que é lugar bom de se viver.

Subi e desci muita ladeira desde o momento em que cheguei. Na página do meu Bed & Breakfast, a orientação era pegar um ônibus na estação rodoviária direção Aduana e descer na praça Aníbal Pinto. Em seguida tomar um táxi compartilhado (que eu pensava só existir na Bolívia) e subindo a rua Almirante Montt por umas 4 quadras. Ingenuamente, achei que por 4 quadras poderia dispensar o táxi e seguir caminhando, e assim o fiz. Era sem contar com a ladeira baiana que é a Almirante Montt. Com uma mochila de 14 kg nas costas e na frente a mochilinha com computador e câmera, fui avançando devagar e com várias paradas. Para piorar, o fecho que prende o apoio do quadril da  mochila esta ruim e solta todo o tempo.  Fiquei feliz em chegar no hostal.

Caminhei muito pelas ruas , vi os miradores, os monumentos…

vista do porto

Ao passar por uma ruazinha, ouvi um violão e vi na  soleira de uma porta um rapaz que tocava Pobre del cantor de Pablo Milanés… delícia.

Também fui visitar a  escola de fotografia Cámara Lucida (http://www.camaralucida.cl/portada.htm ), projeto iniciado há 11 anos por  um soriano, numa casa distante poucas quadras de onde estava hospedada.  Fui recebida  com uma hospitalidade fantástica

Final de tarde com direito a pôr-do-sol nas Torpederas , com uma caminhada quase sem fim pela orla .

Torpederas

Na volta do passeio, resolvi parar num restaurante entre o bairro do Porto e o palácio de Justiça chamado La Playa, que afirma ter sido inaugurado em 1908, e mescla uma decoração kitsch com uns painéis de madeira, espelhos e fotos antigas. Pausa para um copo de vinho, enfim, e uma empanada de macha-queso. O vinho não era dos melhores e o óleo onde foi frita a empanada não estava na primeira juventude, mas o balcão de madeira do bar me ofereceu um momento tranquilo, com uma impagável trilha sonora dos anos 70, que começou com Eagles, – Hotel California- e seguiu por David Bowie (Ziggy Stardust) – Starman, Peter Frampton -Baby I love your way , Carpenters -Close to you, Carly Simon – You’ve got a friend… pura nostalgia que mereceria figurar na playlist da Karam!

No dia seguinte, cometi um erro terrível. No lugar de seguir deambulando por Valparaíso, tomei o metrô e fui visitar Viña del Mar… tempo perdido. Céu nublado, tempo frio, sem muita graça.

No início da tarde, deixei o paraíso em um ônibus e segui para Santiago.

No caminho, fui vendo alguns vinhedos com os nomes que vemos nas garrafas: Indomita, Emiliana… Ao meu lado, uma garota estudava a aplicação de florais de Bach. Num dado momento, começou a se maquiar e, para curvar os cílios, usou uma colher de café… vontade de fazer uma foto disso!