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Para terminar, pessoas
Queria terminar com umas imagens de pessoas que cruzaram meu caminho, conhecidas ou não.
A descoberta de San Pedro
A primeira pessoa que conheci em San Pedro foi um australiano chamado Will, ruivo e dono de uns dreadlocks fantásticos. Bem, na verdade a segunda, se conto o recepcionista do Hostal La Florida, Maurìcio, um tipo louco por festa e que escutava umas cúmbias terríveis durante todo o dia. Depois de observar isso, fiquei com a certeza de que muita cumbia provoca dano (talvez irreversível) ao cérebro.
Encontrei Will na cozinha do hostal, quando ia esquentar água para fazer um chá. Ele me emprestou fogo e começamos a conversar, umas frases em inglês intercaladas com nosso péssimo espanhol. Isso é a maior, senão a única, vantagem dos hostels ( a conversa fácil, não o arremedo de espanhol). Além do preço barato, é claro. Na maioria das vezes compensa a ausência de conforto.
Um pouco mais tarde, estava na recepcão conversando com Noémie sobre o que visitar nos arredores de San Pedro quando o australiano nos convidou para ir ver o entardecer num lugar que tinha descoberto e que considerava o mais bonito de San Pedro e grátis. Noémie não quis ir, então saimos, Will, seus dois amigos chilenos, Nico e Tito, e eu.
Caminhamos um pouco e subimos num alto, passando por um córrego com umas eclusas e vimos o entardecer colorir o Vulcão Licancabur.
Não sei se era o mais bonito de San Pedro, mas era magnífico.
De Uyuni a San Pedro
Era tudo de verdade…Bom, quase tudo.
O pessoal foi chegando e descobrimos que cada um dos três jeeps levaria 7 passageiros além do motorista. Um dos carros ia fazer a viagem de um dia, os outros dois o tour de três dias duas noites (e compartilharíamos refeições, paradas e alojamento).
Embora eu tivesse dito que ficaria com o guia em espanhol, acabei no mesmo carro que Guillaume e Pauline (FR), e a nós se juntaram um casal americano – Ryan e Molly,
e uma dupla inglesa – Paul e James…
…além do nosso guia-motorista, Obed, cujo nome real (!) só descobri hoje, ao tentar colocar umas canções no seu Ipod. Durante dois dias ele foi chamado de inúmeras variações possíveis de seu nome, ao gosto de cada nacionalidade: Robert, Aubert, Albert…
No outro carro, dois casais de franceses fazendo a volta ao mundo (não juntos) um casal de suiços e a boliviana que me garantiu o desconto – Vanessa.
Sucre
Até esta manhã , Sucre era a minha cidade boliviana preferida. Menos de três horas na cidade e ela já faz parte de uma categoria de lugares mágicos, o que me forçou a uma visita até o cyber mais próximo em tempo recorde para compartilhar…
Tudo bem, foram 18 horas na última fileira num ônibus vagabundo, apesar de « cama ». No assento da janela ao meu lado sentou uma moça simpática sem ser invasiva, que tinha a mesma intenção que eu: dormir durante todo o trajeto. Só não alcancei meu objetivo porque antes mesmo de deixarmos o perimetro urbano, sentou no corredor ao meu lado um tipo estranho e calado, que há muito necessitava de banho.
A viagem foi mais ou menos tranquila, embora o ônibus tenha apresentado uns problemas e parado algumas vezes. Tive a impressão que o motorista era adepto da « banguela » e eu prefiro minha descida de serra sem emoção.
Numa das paradas, conversei com uma freira que trabalha no Beni (região que é o paraíso tropical boliviano) e que me informou que no sábado tem a festa da entrada da virgem de Guadalupe em Sucre. Comecei a pensar que fiz besteira em não reservar hotel.
Bom, desembarquei e fui até ao serviço de informações turísticas pegar um mapa. Decidi caminhar do terminal até a rua onde sabia ter uns alojamientos. Cheguei no Alojamiento La Plata (calle Ravelo), o mesmo onde ficamos em 2002, e o simpático Leo me informou que teria uma matrimonial para mim a partir das 15 h. Deixei a mochila e fui direto comer meu tardio desayuno… as tão esperadas salteñas d’El Patio.
Valeu a espera, porque o lugar é genial e as salteñas tão fantásticas quanto eu recordava.
É preciso dizer ao noviço qué las salteñas se comen en la mañana, nunca pasado el mediodía.
Com o estômago cheio fui rever o o Museo Textil, que tem os tecidos mais lindos Jalq’a e Tarabuco.
Ao sair caminhado sem rumo pela rua, entrei na calle Avaroa… no outro lado da rua havia duas mulheres conversando em frente ao Instituto Goethe. Quando cruzo a rua, olho uma das mulheres e penso o quanto ela me lembra a Fabby, a boliviana que conheci no trem da morte em 2002. Chego mais perto e ela me olha e diz meu nome, entre pergunta e exclamaçao!!! Era ela, que passou 6 anos em Barcelona e voltou a Sucre em maio. Advogada, ela trabalha em uma universidade em um projeto sobre autonomia. Mostrou-me seu escritório na universidade e fomos tomar um sorvete… Mais tarde vamos a uma festa!
Sucre promete.
CWB 9º
Domingo, 8h32 – Escala em Curitiba a caminho de Campo Grande. Capuccino de verdade e uma hora de espera.
Levantar às 04h00 para tomar um avião às 06h50 me lembrou as idas à Brasília no ano passado. Desta vez o voo era em Guarulhos.
Tomar o metrô num domingo às cinco da manhã me fez sentir estrangeira. A mochila (14,8 kg!!!) e as calças caqui destoavam do visual noturno dos habitantes dos passageiros da linha vermelha. O breve percurso entre as estações Marechal Deodoro e República foi engraçado.
Em Campo Grande fui recebida de braços abertos por Patrícia e Maurílio, para um almoço de família. No fim da tarde fomos buscar uns ipês amarelos para fotografar… mas a conversa tinha durado tanto que já não havia luz…
Às 23h00 tomei o ônibus para Corumbá. É preciso dizer que a rodoviária de Campo Grande nao é mais a que conheci em 2002, e onde passamos sórdidos mas inesquecìveis momentos… toda uma noite a espera do ônibus para Brasiìlia, tomando caldo de piranha em um bar sinistro, com direito a desfile de peripatéticas e um exibicionista!!!!
Próxima parada: Corumbá.